As infecções de ouvido em cães estão entre os problemas de saúde mais recorrentes enfrentados por tutores e veterinários. Elas podem afetar cães de todas as idades, raças e tamanhos, embora alguns animais estejam naturalmente mais predispostos devido à anatomia de suas orelhas, presença de pelos no canal auditivo ou histórico de alergias. Mesmo com tantos avanços na medicina veterinária, muitos tutores ainda não percebem os sinais de alerta logo no início, o que pode tornar o tratamento mais difícil e o desconforto do animal ainda maior.
Por que os ouvidos caninos são tão suscetíveis?
Ao contrário dos ouvidos humanos, os canais auditivos dos cães têm uma forma em “L”, que facilita o acúmulo de umidade, cera e impurezas. Essa estrutura, aliada a fatores como banhos frequentes, clima úmido, corpos estranhos ou predisposições genéticas, cria um ambiente ideal para a proliferação de bactérias, fungos e até parasitas como ácaros. Cães com orelhas caídas ou muito peludas, por exemplo, têm menor ventilação na região, o que contribui ainda mais para o desenvolvimento de infecções.
A importância da atenção rápida
O que começa como um simples incômodo pode evoluir rapidamente para uma infecção dolorosa e, em casos extremos, comprometer a audição do animal ou afetar seu equilíbrio. Por isso, identificar os sintomas precocemente e buscar ajuda profissional o quanto antes é fundamental. Um cão que coça insistentemente a orelha, sacode a cabeça com frequência ou demonstra dor ao toque nessa região pode estar dando sinais claros de que algo não vai bem.
Quanto mais cedo o tratamento for iniciado, mais rápida e eficaz será a recuperação. Além disso, a atenção constante à saúde auditiva do pet pode evitar que o problema se torne recorrente — algo comum em cães que já tiveram infecções anteriores.
Neste guia completo, você vai entender os sintomas mais comuns das infecções de ouvido em cães, saber como diagnosticá-las corretamente, conhecer as opções de tratamento mais seguras e descobrir como prevenir novas ocorrências por meio de cuidados simples e eficazes no dia a dia. Também abordaremos quais raças merecem atenção especial e quais são as complicações que podem surgir quando a infecção não é tratada a tempo.
Se você deseja garantir bem-estar, saúde e conforto ao seu companheiro de quatro patas, continue a leitura e aprenda a proteger os ouvidos do seu cão de forma responsável e consciente.
O que são infecções de ouvido em cães?
As infecções de ouvido, conhecidas clinicamente como otites, são inflamações que acometem o canal auditivo dos cães e podem ter origens diversas. Essa condição não apenas causa incômodo e dor, como também pode impactar o comportamento, o equilíbrio e até a audição do animal. Em muitos casos, a otite é recorrente, especialmente quando a causa de base não é tratada adequadamente.
Tipos de infecções de ouvido caninas
As infecções auditivas em cães se classificam de acordo com a profundidade da inflamação no ouvido. Entender esses tipos ajuda a compreender a gravidade do quadro e os cuidados necessários:
- Otite Externa: É o tipo mais comum. Afeta a parte externa do canal auditivo, aquela mais próxima da abertura do ouvido. Pode ser causada por umidade excessiva, acúmulo de cera, presença de corpos estranhos, alergias ou parasitas como os ácaros.
- Otite Média: Ocorre quando a inflamação atinge a parte média do ouvido, geralmente como uma complicação da otite externa mal tratada. É mais grave e pode provocar dor intensa, desequilíbrio e sintomas neurológicos.
- Otite Interna: É a forma mais severa da infecção. Afeta a parte mais interna do ouvido, próxima ao sistema nervoso central. Pode comprometer seriamente o equilíbrio do cão e causar perda auditiva permanente. Casos assim exigem tratamento intensivo e, às vezes, intervenção cirúrgica.
Principais causas das infecções de ouvido
Diversos fatores podem estar por trás de uma infecção no ouvido canino. É essencial identificar a causa correta para garantir um tratamento eficaz. Abaixo estão os agentes mais comuns:
- Bactérias: Muitas infecções são provocadas por bactérias oportunistas que se proliferam em ambientes quentes e úmidos, como o interior do ouvido canino.
- Fungos (leveduras): A Malassezia pachydermatis é um fungo comum que vive normalmente na pele dos cães, mas pode se multiplicar em excesso em situações de desequilíbrio.
- Ácaros (Otodectes cynotis): Pequenos parasitas que se alimentam da cera e da oleosidade dos ouvidos. São mais comuns em filhotes e cães que convivem com outros animais infectados.
- Alergias: Cães com dermatite atópica, alergias alimentares ou ambientais têm maior predisposição a otites recorrentes.
- Corpos estranhos: Grãos de areia, sementes, pedaços de plantas e outros objetos podem se alojar no ouvido, causando irritação e infecção.
- Problemas hormonais ou imunológicos: Hipotireoidismo, por exemplo, pode afetar a saúde da pele e dos ouvidos.
- Higiene inadequada ou excessiva: Limpezas muito agressivas ou negligência na higiene podem desequilibrar o ambiente interno do ouvido.
Fatores de risco e predisposição por raça
Embora qualquer cão possa desenvolver uma infecção de ouvido, algumas características anatômicas e genéticas aumentam o risco:
- Orelhas longas e pendentes: Raças como Cocker Spaniel, Basset Hound e Bloodhound têm orelhas que cobrem a entrada do ouvido, reduzindo a ventilação e favorecendo a umidade.
- Cães com muitos pelos no canal auditivo: Como o Poodle, que pode ter pelos densos que prendem sujeira e umidade.
- Cães que nadam com frequência: Como os Labradores e Golden Retrievers, que acumulam água nos ouvidos após banhos ou mergulhos.
A otite canina é mais do que um simples incômodo. Ela pode se tornar um problema recorrente e doloroso se não for tratada com atenção e cautela. Além de afetar o bem-estar do cão, a infecção pode comprometer sua audição e qualidade de vida a longo prazo. Por isso, entender os tipos, causas e fatores de risco é o primeiro passo para uma abordagem eficaz.
Principais sintomas de infecção de ouvido em cães
As infecções de ouvido em cães raramente passam despercebidas. Mesmo antes de sinais físicos evidentes, o comportamento do animal costuma mudar, e o tutor atento consegue perceber que algo está errado. Conhecer os principais sintomas é essencial para agir rapidamente e evitar que o problema evolua para um quadro mais grave.
A seguir, detalhamos os sinais mais comuns de infecção auditiva canina, explicando como cada um se manifesta e o que ele pode indicar.
Coceira intensa e persistente
A coceira é, sem dúvida, um dos primeiros e mais evidentes sinais de que algo está incomodando os ouvidos do cão. Ele pode coçar vigorosamente a região com as patas traseiras, esfregar a cabeça no chão, nas paredes ou em móveis, em uma tentativa desesperada de aliviar o desconforto.
Esse comportamento, quando repetido com frequência, pode causar lesões na pele, agravando ainda mais o quadro e abrindo portas para infecções secundárias. Se a coceira for localizada apenas em um ouvido, isso também pode ser um indicativo da lateral afetada.
Secreção anormal
A presença de secreção no ouvido é um sinal claro de infecção. Essa descarga pode variar de coloração e consistência de acordo com o tipo de agente causador:
- Secreção amarelada ou esverdeada: Pode indicar infecção bacteriana.
- Secreção marrom escura, com aspecto ceroso: Comum em casos de infestação por ácaros.
- Presença de pus: Sugere uma infecção grave e avançada.
Além disso, a secreção costuma ter odor desagradável e, em alguns casos, pode escorrer visivelmente para fora da orelha. É importante nunca tentar limpar por conta própria sem a orientação de um veterinário, pois isso pode empurrar o material contaminado ainda mais para dentro do canal auditivo.
Odor forte e desagradável
Um dos sintomas mais perceptíveis para o tutor é o mau cheiro vindo dos ouvidos. Normalmente, infecções causadas por bactérias ou fungos liberam compostos que produzem odores característicos descritos por muitos como “cheiro de mofo” ou “cheiro de queijo estragado”.
Esse odor é mais intenso nos casos em que a infecção já está avançada, mas pode estar presente desde os estágios iniciais. Em ambientes fechados, o cheiro costuma ser mais fácil de notar.
Vermelhidão, inchaço e sensibilidade ao toque
Os ouvidos inflamados ficam visivelmente mais vermelhos por dentro, podendo apresentar inchaço nas paredes do canal auditivo e nas dobras externas da orelha. Em muitos casos, o cão demonstra dor ao ser tocado na região, encolhendo-se, chorando ou até mesmo tentando se afastar.
Esse tipo de resposta dolorosa é um alerta importante de que o problema já está interferindo diretamente no bem-estar do animal.
Sacudir a cabeça com frequência
Outro sinal típico é o ato de sacudir repetidamente a cabeça de um lado para o outro, como se estivesse tentando “expulsar” algo do ouvido. Esse comportamento pode acontecer mesmo sem estímulo externo, e costuma ser mais intenso após atividades físicas ou quando o cão se levanta após descansar.
Esse gesto, quando constante, pode provocar hematomas na orelha (otohematomas), especialmente em raças com orelhas pendentes.
Inclinação da cabeça e perda de equilíbrio
Em infecções mais profundas, como nas otites médias e internas, o cão pode apresentar inclinação constante da cabeça para o lado afetado, sinal de que o ouvido interno, responsável pelo equilíbrio, está comprometido.
Além disso, o animal pode:
- Tropeçar com frequência;
- Apresentar dificuldade para andar em linha reta;
- Demonstrar desorientação ou andar em círculos.
Esses sinais neurológicos indicam urgência na procura por atendimento veterinário, já que o quadro pode se agravar rapidamente.
Alterações de comportamento
O desconforto causado por uma infecção auditiva também pode alterar o comportamento geral do cão. Mesmo cães normalmente ativos e sociáveis podem apresentar:
- Apatia ou isolamento;
- Agressividade repentina ao ser tocado;
- Irritabilidade e sensibilidade aumentada;
- Choramingos frequentes ou gemidos sutis.
Essas mudanças, quando associadas a outros sintomas físicos, reforçam a necessidade de investigação imediata.
Queda de pelos na região e feridas
Em casos crônicos ou negligenciados, o cão pode desenvolver falhas de pelo próximas à base da orelha, causadas por coceiras intensas, arranhões ou lesões por atrito. Algumas dessas áreas podem apresentar crostas, sangramentos ou feridas abertas o que favorece a entrada de novos agentes infecciosos.
Esse sintoma é mais comum em cães com otites recorrentes ou que já sofreram infecções prolongadas sem o tratamento adequado.
Observar qualquer um desses sintomas já é motivo suficiente para uma avaliação veterinária. Mesmo infecções leves podem evoluir para quadros sérios se ignoradas. Lembre-se de que cães não conseguem expressar sua dor com palavras, mas seu corpo e comportamento revelam muito basta estar atento aos sinais.
Como diagnosticar a infecção de ouvido
O diagnóstico preciso de uma infecção de ouvido em cães é fundamental para garantir um tratamento eficaz e evitar complicações futuras. Apesar de muitos tutores perceberem sinais visíveis de desconforto auditivo em seus animais, somente uma avaliação veterinária é capaz de identificar a causa exata da infecção e o melhor caminho terapêutico.
O primeiro passo no processo diagnóstico é o exame físico completo, com atenção especial às orelhas do cão. O veterinário observará sinais como vermelhidão, presença de secreção, inchaço, odor, sensibilidade ao toque e eventuais lesões externas. A inspeção visual já fornece indícios importantes, mas, para uma avaliação mais aprofundada, é comum o uso do otoscópio, um instrumento que permite visualizar o interior do canal auditivo. Esse exame revela se há corpos estranhos, excesso de cera, presença de pus, ácaros visíveis ou lesões no tímpano, e ajuda a determinar se a infecção é superficial ou se há envolvimento da parte média ou interna do ouvido.
Além do exame clínico, a coleta de amostras do conteúdo presente no ouvido é uma etapa essencial para a identificação do agente causador da otite. Esse material pode ser analisado diretamente no microscópio para verificar a presença de bactérias, fungos (como a levedura Malassezia), ácaros ou células inflamatórias. Em casos mais resistentes, ou quando o animal já passou por tratamentos anteriores sem sucesso, pode ser indicada a realização de uma cultura microbiológica, que permite identificar exatamente qual micro-organismo está envolvido e qual antibiótico será mais eficaz contra ele.
Outro ponto importante da investigação é a análise do histórico do animal. O veterinário poderá questionar o tutor sobre a frequência dos banhos, se o cão costuma nadar, se possui alergias conhecidas, se já teve infecções anteriores, qual a rotina de higiene auricular e se há coceira em outras partes do corpo. Em muitos casos, infecções recorrentes estão associadas a causas subjacentes, como dermatites alérgicas, doenças endócrinas (como o hipotireoidismo) ou distúrbios imunológicos, que também precisam ser diagnosticados e tratados para evitar a reincidência.
É fundamental lembrar que o diagnóstico preciso não deve ser baseado apenas na aparência ou no cheiro da secreção, pois diferentes agentes podem causar sintomas semelhantes. Por isso, o uso de testes laboratoriais é essencial para evitar tratamentos inadequados, que podem piorar o quadro ou favorecer o surgimento de cepas resistentes.
Em casos mais complexos, quando há suspeita de otite média ou interna, exames de imagem como radiografias, tomografias computadorizadas ou ressonâncias magnéticas podem ser solicitados, especialmente quando o cão apresenta sinais neurológicos, perda de equilíbrio ou inclinação persistente da cabeça.
Portanto, embora alguns tutores tentem tratar infecções auditivas com soluções caseiras ou medicamentos sem prescrição, essa prática é altamente desaconselhada. O ouvido canino é uma estrutura sensível e qualquer intervenção inadequada pode agravar o problema. Consultar um médico-veterinário ao primeiro sinal de infecção é a forma mais segura de garantir a saúde auditiva e o bem-estar do seu companheiro.
Tratamentos disponíveis
Quando diagnosticada corretamente, a infecção de ouvido em cães pode ser tratada com sucesso. No entanto, o tratamento deve ser conduzido de forma criteriosa e sempre sob orientação veterinária, pois cada caso pode ter uma causa diferente o que exige abordagens específicas. Abaixo, exploramos os principais pilares do tratamento eficaz.
Limpeza adequada dos ouvidos (Orientada por veterinário)
A limpeza do canal auditivo é uma etapa crucial para a recuperação. Ela tem como objetivo remover o excesso de secreção, cera, células mortas, microrganismos e resíduos que favorecem a proliferação da infecção. No entanto, essa etapa deve ser feita exclusivamente com produtos apropriados e indicados pelo veterinário.
Soluções otológicas com ação ceruminolítica (dissolvem a cera) ou antisséptica são comumente utilizadas. O tutor jamais deve utilizar álcool, vinagre, soro fisiológico puro ou cotonetes, pois esses métodos podem causar irritações, empurrar a sujeira para dentro ou até perfurar o tímpano.
A frequência da limpeza e a técnica correta (quantidade de produto, tempo de aplicação e modo de massagear o ouvido) também devem ser orientadas pelo profissional, de acordo com a gravidade da infecção e a sensibilidade do animal.
Uso de medicamentos tópicos e orais
Após a limpeza inicial, o tratamento com medicamentos é essencial para combater o agente causador da otite. A escolha dos fármacos dependerá do tipo de infecção diagnosticada:
- Antibióticos tópicos ou orais: Indicados quando a infecção é bacteriana. Podem ser aplicados diretamente no ouvido (sob a forma de gotas, cremes ou géis) ou administrados via oral em casos mais graves ou profundos.
- Antifúngicos: Usados no tratamento de infecções causadas por leveduras, como a Malassezia. Também podem ser tópicos ou sistêmicos, conforme a extensão do quadro.
- Anti-inflamatórios: Muito importantes para aliviar o inchaço, a dor e a coceira. Eles ajudam a reduzir a inflamação local e proporcionam maior conforto ao animal.
Muitos medicamentos otológicos combinam mais de uma substância ativa (antibiótico + antifúngico + corticoide, por exemplo), o que facilita a aplicação e melhora a eficácia.
É importante respeitar rigorosamente as orientações quanto à dosagem, duração e modo de aplicação. Interromper o tratamento antes do tempo, mesmo que os sintomas desapareçam, pode resultar em recaídas ou resistência medicamentosa.
Tratamentos específicos para causas subjacentes
Em diversos casos, a infecção é apenas o sintoma visível de um problema maior. Quando isso acontece, é fundamental tratar a causa de base, para evitar a reincidência da otite.
- Ácaros (Otodectes cynotis): Nesses casos, além da limpeza e uso de acaricidas otológicos, o tratamento deve envolver todos os animais da casa. Também pode ser necessário utilizar pipetas antiparasitárias sistêmicas, que atuam por mais tempo e previnem novas infestações.
- Alergias alimentares ou ambientais: Quando as infecções de ouvido estão associadas a processos alérgicos, o tratamento deve incluir uma abordagem dermatológica completa. Isso pode envolver dietas hipoalergênicas, controle ambiental (eliminação de alérgenos) e uso de medicamentos imunomoduladores.
- Doenças endócrinas ou imunológicas: Em casos de hipotireoidismo, hiperadrenocorticismo (síndrome de Cushing) ou disfunções imunológicas, o controle da condição sistêmica é essencial para o sucesso do tratamento auditivo.
Sem o manejo correto dessas causas subjacentes, o cão pode apresentar infecções recorrentes, mesmo após tratamentos eficazes.
Duração do tratamento e necessidade de acompanhamento
A duração do tratamento varia de acordo com o tipo e a gravidade da infecção, mas em geral, os protocolos duram de 7 a 30 dias. Em otites internas ou casos crônicos, o tempo pode ser ainda maior. Mesmo quando os sintomas parecem ter desaparecido, é crucial seguir o tratamento até o fim e realizar retorno ao veterinário para reavaliação.
O acompanhamento permite verificar se a infecção foi completamente erradicada, se há melhora no aspecto do canal auditivo e, em alguns casos, repetir exames laboratoriais para confirmar a cura.
Infecções tratadas de forma incompleta ou com produtos inadequados podem se tornar crônicas, recorrentes e até resistentes a medicamentos, o que torna o tratamento mais difícil e caro.
Por isso, o acompanhamento profissional não é apenas recomendável, ele é parte essencial da cura.
Prevenção de infecções de ouvido em cães
Prevenir é sempre melhor do que remediar, especialmente quando se trata da saúde auditiva dos cães. Muitas infecções de ouvido poderiam ser evitadas com práticas simples de cuidado no dia a dia. Embora algumas raças tenham maior predisposição a desenvolver otites, como cães com orelhas longas e caídas (Cocker Spaniel, Basset Hound, Golden Retriever) ou com canais auditivos estreitos e peludos (Poodle, Schnauzer), qualquer cão pode sofrer com o problema se os cuidados preventivos forem negligenciados.
Um dos pilares da prevenção está na higiene regular, porém moderada dos ouvidos. Isso significa que os ouvidos do cão não devem ser limpos excessivamente, pois a remoção constante da cera natural pode irritar a pele e facilitar a entrada de microrganismos. A frequência ideal de limpeza varia de acordo com o cão e deve ser determinada por um veterinário, mas, em geral, uma ou duas vezes por mês costuma ser suficiente para a maioria dos cães saudáveis. O uso de produtos próprios para cães, com ação suave e pH balanceado, é essencial. Nunca se deve utilizar cotonetes ou objetos que possam empurrar a sujeira para o fundo do canal auditivo.
Outro ponto importante está nos cuidados após o banho ou atividades aquáticas. A entrada de água nos ouvidos é uma das principais causas de otites, pois cria um ambiente quente e úmido, ideal para a proliferação de bactérias e fungos. Ao dar banho no seu cão em casa ou no pet shop é fundamental proteger os ouvidos com algodão hidrofóbico (revestido com vaselina, por exemplo) e secar bem a região após a lavagem. Para cães que nadam com frequência, o uso de soluções secativas recomendadas pelo veterinário pode ajudar a equilibrar o ambiente do canal auditivo.
A alimentação balanceada e a saúde da pele também influenciam diretamente na prevenção das infecções. Cães com dietas pobres em nutrientes, ou que apresentam alergias alimentares, tendem a desenvolver problemas de pele que afetam também o conduto auditivo. Manter uma dieta de qualidade, rica em ácidos graxos essenciais (como o ômega 3 e 6), vitaminas e minerais, fortalece a barreira cutânea e reduz os processos inflamatórios que podem atingir os ouvidos. Em animais com histórico de alergias, a identificação e controle dos gatilhos alimentares ou ambientais são essenciais para evitar quadros recorrentes de otite.
A manutenção da pelagem ao redor dos ouvidos também deve ser observada. Em raças que acumulam muitos pelos dentro do canal auditivo, a tosa higiênica pode ser necessária para melhorar a ventilação da região. No entanto, a retirada dos pelos deve ser feita com cuidado, por um profissional treinado, para não causar microlesões que sirvam de porta de entrada para microrganismos. Em muitos casos, a simples poda ao redor da entrada do ouvido já ajuda bastante.
Por fim, é recomendável incluir a verificação dos ouvidos na rotina de cuidados com o cão, especialmente em épocas mais quentes e úmidas, que favorecem a proliferação de fungos e bactérias. Observar se há cheiro incomum, excesso de cera, coceira ou qualquer secreção já permite agir precocemente, antes que a infecção se instale por completo. As consultas de rotina com o veterinário também são importantes para detectar e corrigir precocemente desequilíbrios que possam passar despercebidos aos olhos do tutor.
Com atenção constante e cuidados simples, é possível manter a saúde auditiva do cão em dia e evitar o sofrimento causado pelas otites. A prevenção exige comprometimento, mas traz benefícios significativos para o bem-estar e a qualidade de vida do animal.
Raças com maior propensão a infecções de ouvido
Embora qualquer cão possa desenvolver infecções de ouvido ao longo da vida, algumas raças possuem características anatômicas e fisiológicas que as tornam naturalmente mais vulneráveis ao problema. Entender esses fatores de risco é o primeiro passo para adotar medidas preventivas mais assertivas e manter os ouvidos sempre saudáveis.
Cães com orelhas longas e caídas, como o Cocker Spaniel e o Basset Hound, estão entre os mais propensos a desenvolver otites. A forma das orelhas cria um ambiente fechado, úmido e escuro — condições ideais para a proliferação de bactérias e fungos. Além disso, a falta de ventilação natural impede a evaporação de umidade acumulada após banhos, chuvas ou mergulhos. Esse tipo de anatomia também dificulta a visualização do interior do ouvido pelo tutor, o que pode atrasar a identificação de sintomas iniciais.
Outro grupo com alto risco são os cães que apresentam pelos densos e volumosos dentro do canal auditivo, como Poodles, Shih Tzus e Lhasa Apsos. Esses pelos podem reter sujeira, cera e umidade, facilitando infecções recorrentes. Em alguns casos, o excesso de pelo impede que a secreção natural seja eliminada corretamente, levando à obstrução e à inflamação do canal. Além disso, o acúmulo de calor dentro do ouvido favorece a multiplicação de microrganismos oportunistas.
Para essas raças mais suscetíveis, é fundamental adotar cuidados específicos de rotina. A limpeza auricular deve ser feita com mais frequência, sempre utilizando produtos próprios para cães e seguindo a orientação do veterinário. Em cães com pelos no interior do canal auditivo, a retirada seletiva desses fios pode ser recomendada, mas deve ser feita por um profissional capacitado para evitar machucados. Cortar os pelos ao redor da entrada do ouvido também ajuda a melhorar a circulação de ar e a facilitar a inspeção visual feita pelo tutor.
É importante, ainda, ter atenção redobrada após o banho ou em períodos chuvosos e quentes. Secar bem as orelhas e usar algodão para proteger os ouvidos durante a higienização são práticas simples que ajudam a prevenir acúmulo de umidade. Para cães que nadam com frequência ou vivem em ambientes muito úmidos, o uso de soluções secativas pode ser uma aliada poderosa, desde que prescrita por um veterinário.
Além disso, cães dessas raças devem passar por acompanhamentos regulares, mesmo quando não apresentam sintomas. Check-ups periódicos ajudam a identificar alterações sutis antes que se tornem infecções graves. Muitas vezes, um leve acúmulo de cera ou uma inflamação inicial pode ser resolvido rapidamente, evitando desconforto e tratamentos mais longos.
A predisposição anatômica não significa que essas raças estão condenadas a sofrer com otites constantemente, mas sim que precisam de cuidados direcionados. Com uma rotina de prevenção bem estabelecida e atenção aos primeiros sinais, é possível manter os ouvidos saudáveis e oferecer mais qualidade de vida ao pet.
Complicações possíveis se não tratadas
Infecções de ouvido em cães não devem ser encaradas como algo simples ou passageiro. Quando não tratadas de forma adequada ou quando o tratamento é interrompido precocemente, essas infecções podem evoluir para quadros mais sérios e causar prejuízos duradouros à saúde do animal. A seguir, explicamos as principais complicações que podem surgir quando a otite é negligenciada.
Infecções crônicas são uma das consequências mais comuns da falta de tratamento adequado. Quando o processo inflamatório se repete ou permanece ativo por longos períodos, ele compromete a integridade da pele do canal auditivo e altera o ambiente natural da orelha. Isso favorece o crescimento de microrganismos resistentes e causa o espessamento das paredes do canal, tornando a infecção cada vez mais difícil de ser controlada. Em casos assim, o cão pode apresentar dor constante, mau cheiro persistente, secreções abundantes e coceira incontrolável, mesmo com o uso de medicamentos exigindo tratamentos mais intensivos e prolongados.
Outra complicação importante é a perda auditiva, que pode ser parcial ou total. A inflamação contínua, o acúmulo de secreções e o estreitamento do canal auditivo afetam a condução do som até o tímpano. Além disso, em infecções que se estendem até o ouvido médio ou interno, estruturas sensíveis podem ser danificadas permanentemente. O cão pode começar a ignorar comandos, parecer desorientado ou reagir com susto a toques repentinos, sinais que muitas vezes são confundidos com desobediência, mas que revelam perda de audição.
Em situações mais graves e prolongadas, as infecções podem ultrapassar a estrutura auditiva e atingir regiões internas da cabeça, levando a problemas neurológicos. Quando a infecção alcança o ouvido interno (labirinto), o cão pode apresentar sintomas como perda de equilíbrio, inclinação da cabeça, andar em círculos, movimentos oculares anormais (nistagmo) e até convulsões. Esses sinais indicam que o sistema nervoso está sendo afetado, o que exige atendimento veterinário emergencial, pois o risco de sequelas é alto.
Nos casos mais avançados, em que o canal auditivo já está completamente obstruído por tecido cicatricial, inflamação crônica ou calcificação, o tratamento clínico deixa de ser eficaz. Nessa fase, muitas vezes a única alternativa é a cirurgia corretiva, como a ablação total do conduto auditivo. Esse procedimento é invasivo e envolve a retirada completa do canal auditivo, o que resulta em surdez permanente no ouvido afetado. Além do impacto físico, há o desgaste emocional e financeiro para o tutor, e o sofrimento para o cão durante todo o processo.
Diante desses riscos, fica evidente que agir com rapidez e responsabilidade diante dos primeiros sinais de infecção é essencial. O tratamento precoce não só alivia o desconforto imediato, mas também previne complicações sérias que podem comprometer para sempre a saúde e o bem-estar do animal.
Cuidados com os ouvidos são essenciais para a saúde do cão
Poucas coisas são tão gratificantes quanto ver um cão saudável, ativo, atento aos sons da casa, reconhecendo a voz do tutor e correndo feliz quando ouve seu nome. Para que isso seja possível ao longo de toda a vida, é essencial dar a devida atenção a algo muitas vezes esquecido: a saúde dos ouvidos.
Detectar os sintomas de uma infecção logo no início pode evitar sofrimento desnecessário. Um simples incômodo, quando ignorado, pode evoluir para um quadro doloroso e persistente. A coceira frequente, o cheiro forte, a inclinação da cabeça e o choro ao tocar a orelha são alertas que não devem ser desconsiderados. Quando o tutor age com rapidez, o desconforto pode ser resolvido com facilidade e o animal volta a ter qualidade de vida em pouco tempo.
Mas tão importante quanto tratar é prevenir. A rotina de cuidados com os ouvidos deve fazer parte do cotidiano do cão, assim como a alimentação, os passeios e as brincadeiras. Limpezas regulares com os produtos certos, atenção após os banhos, inspeções frequentes e carinho redobrado com raças mais predispostas fazem toda a diferença. A prevenção é um gesto de amor silencioso, mas poderoso.
E se surgir qualquer dúvida ao longo do caminho, o melhor recurso sempre será o conhecimento técnico e o olhar experiente do médico-veterinário. Procurar orientação profissional não é sinal de insegurança é sinal de responsabilidade e cuidado verdadeiro. Afinal, cada animal é único, e só um especialista pode indicar o melhor caminho para garantir sua saúde de forma individualizada.
Cuidar dos ouvidos do seu cão é mais do que uma tarefa: é um compromisso diário com o bem-estar de quem confia plenamente em você. Pequenos gestos hoje significam mais saúde, conforto e alegria para o seu melhor amigo amanhã, e isso com certeza, vale todo o esforço.